Carlos

Carlos falou que morava numa vaga na Lapa e pagava 450 reais por mês. Gostava de silêncio mas só no quarto na hora de dormir. Vaga de garagem não. Vaga em um quarto. Vaga, ele explicou: uma cama. Vida pacata não era pra ele. Quando visitava seus parentes na Bahia, ficava um ou dois dias, no máximo. Silêncio só no quarto na hora de dormir. Não é que baiano é lento, baiano pára e conversa. Se você pedir uma informação na rua não é que nem aqui que a pessoa nem pára pra te responder. Mas ruim mesmo é o preço. 450 reais uma cama na Lapa. Uma da manhã ligavam a luz e não se pode fazer nada. Perguntou de onde era aquela lama. Lavava o carro cantarolando um axé, vinha de Salvador e cantava como se estivesse numa festa mas era um carro e uma mangueira soltando água. Que vida pacata que nada. Fazia uma tarde ensolarada de agosto. Quis a felicidade simples de Carlos.

Não rio

             Rio. Nem tanto ultimamente. Algo de estranho no ar. Só está tranquilo quem está de passagem. Apesar do céu azul, o clima não é dos melhores. Imobilidade urbana. Preço de Tóquio, serviço do Rio de Janeiro.

Cidade prostituta.

            Percebo no ar, ouço de amigos voltando de viagens. Assobio Carto ao Tom,  “este rio de amor que se perdeu”. Versão remix.           

Perdeu e com esculacho.

            Todo mundo desesperado. Por dinheiro. Tudo por dinheiro. Rá raê. Salve-se quem puder. 

Selva.

            Mas, peraí… será que temos que vender nossa cidade desta forma?

Colônia de exploração.

            Ao votar no atual prefeito e governador, a população assinou o contrato de cessão total de direitos. De ir e vir. De protestar. De se divertir.

Ame-o ou deixe-o.

             Magic Kingdom dos trópicos, com roleta na porta e insegurança da PM.

Mina de ouro.

            Uma cidade posta à venda para seus moradores. E turistas. Quer comprar? Fala com a turma do prefeito e do governador. Será que Dom João VI já desembarcou?

Arrastão.

            E para quem reclamar, uma remessa superfaturada de balas de borracha e gás de pimenta. Prisões arbiitrárias por mais 25 centavos, senhor?