Em pé na fila pra pagar no fim da festa, um canhoto, um carimbo e o diploma

 

esperando

Na fila pra pagar no fim da festa, minha cara

é uma espécie de cartela,resto de chão pelos olhos, a guerra

Espero oportuno, com a cartela na mão: são quadrados que marcam meu

álcool de espírito, a fila pra pagar vai dobrando o salão, são as notas

que marcam meu histórico escolar, e tome de gente na colação. No peito doeu, são penicos os ouvidos sempre limpos à espera do bolo alimentar de espírito; caixas de som, sintetizadores, os professores.

Bate estaca teoria da comunicação

paciência pra esperar, palavras pra esperar, ciência pra esperar… religião?

força pra esperar

vontade

de pagar e ir deitar

 

Quantifiquem minhas águas e também as aguardentes

as matérias, cadeiras, as faltas freqüentes

qualifiquem o liquido

olhando os xizes do meu olhar

 

4 horas de cadeira por dia

(até que a moça do bar é gatinha)

sentado, ouvindo, escrevendo coisas como esta

no papel das nossas cabeças

20 anos de 4 horas de 5 dias por semana

as sextas-feiras

em pé na fila,  4 e meia

não nas cadeiras

com a cartela na mão esperando

o canhoto e o carimbo do bar

o diploma

esperando

na fila pra pagar

no fim da festa, minha cara…

(e retorna pro início, como tudo nessa vida)

mulher borboleta

Eu conheci uma mulher borboleta. Foi no samba. Um pouco depois que entrei no bar. O som estava alto pra ecoar por toda a rua, o calor era típico do mês de janeiro. Os ladrilhos do salão suavam.

Entre um ombro e outro, avistei aquela borboleta mulher parada no canto. Duas músicas depois, ela veio voando, veio voando, e bem na hora do refrão daquele samba animado, a borboleta pousou ao meu lado.

Falei baixinho e procurei não fazer movimentos bruscos. Não queria que ela se assustasse. Mas a mulher estava curiosa e foi se aprochegando de mansinho. Contei e cantei. Que eu nunca tinha visto uma mulher borboleta assim, tão perto.

Quando eu ria, me preocupava em não mexer demais os braços. Afinal, qualquer brisa é ventania praúma mulher borboleta. Ela era delicada e conservava a brutalidade dos insetos fêmea.

Num certo momento, quando o silêncio se fez, ameaçou ir embora e avoar para longe, mas foi alarme falso. A mulher borboleta se aproximou ainda mais, fez um vôo curto e veio pousar no meu ombro, na mira dos meus ouvidos. Ela queria falar mais baixo e ouvir melhor.

Vamos lá pra fora tomar uma cerveja?

E ficamos de asas abertas para o vento que estava leve e constante.

de vagar

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Calçar minha bicicleta

e sair sem rumo

por aí

olhando nos olhos das matas

dando boa tarde pras pedras

me perdendo nos meus pensamentos

enquanto a estrada passa

por mim.

 

São olhos

de gente da roça

que quando passo

capricha no tom grave do

“oooooba”

são curvas por entre os vales

o rio lá embaixo

e lá dentro eu digo pra mim:

“o que tem depois daquela curva?”

E vou dizendo

até ficar rouco das pernas…

 

Bem devagar eu pedalo

que é pra ter tempo de pensar

pra ouvir os gaviões gritarem

o eco ecoar nas montanhas

Pra dar tempo

dos vira-latas

latirem pra mim

pra dar tempo

do silêncio de fora

inundar a minha sala

madurar pensamentos

Pra dar tempo pro tempo

cavando

o sulco do vale

nesse mar de morros

sem fim

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Dissertação de Mestrado em Educação: “Um turista aprendiz nos Parques Infantis: Mário de Andrade, viagem e educação”.

É com muita alegria que compartilho com vocês a minha dissertação de Mestrado em Educação defendida em julho de 2018 na UERJ.

Para download da dissertação, clique no link abaixo:

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Um turista aprendiz nos Parques Infantis: Mário de Andrade, viagem e educação

Autor: Ricardo Elia

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Resumo

Este trabalho investiga a relação estabelecida entre viagem e educação no livro “O turista aprendiz”, de Mário de Andrade, escrito na década de 1920, e em seu projeto educacional “Parques Infantis”, implementado na cidade de São Paulo na década de 1930. A pesquisa analisa a forma como Mário de Andrade concebeu suas viagens de uma perspectiva educacional e como em seu projeto educacional, o intelectual colocou em prática elementos assimilados durante as suas viagens. No fim da década de 1920, o autor fez duas viagens, uma para o Norte passando pelo Nordeste e outra para o Nordeste do Brasil. As suas impressões, concebidas como um diário de viagem e publicadas na década de 1970 com o título “O turista aprendiz”, buscam apreender a identidade brasileira, em suas múltiplas faces, através dos costumes e especificidades de cada local visitado. Na década de 1930, no período em que foi diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, Mário de Andrade pôs em prática um projeto de educação infantil denominado “Parques Infantis”, no qual crianças realizavam atividades artísticas ao ar livre inspiradas em diversas manifestações culturais do Brasil. Assim, este trabalho busca ampliar o conhecimento acerca da História da Educação no Brasil, e nos permite refletir sobre assuntos de grande relevância para os dias de hoje referente às mobilidades, trocas culturais, identidade, diversidade, imaginação e projetos educacionais.

Palavras-chave: O turista aprendiz. Parques Infantis. Mário de Andrade. Modernismo. Cultura brasileira. Educação.

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tijolinho amarelo

sonhei com o ato

de fazer poesia

e uma baleia negra com crina

gigante na praia do leme

inofensiva

vi com a vovó

acordei e fui pedalar

na volta parei

pra esperar

a baleia na beira da praia

e fiquei a ver

a calma da beira

na pedra do leme

parado

pra ver quem iria sentar

ao meu lado

eu fiquei

a ouvir

quais as ondas

quebrariam na beira de

mim

quais as ondas

chegariam pra perto

voltariam pra longe

por fim

obra

estou construindo minha casa
meus pés minhas mãos
estão molhadas de barro
suo
mesmo não estando
tão quente
estou construindo minha casa
o suor derrete
terra
pele da minha pele
o terreno está em obras
pedra madeira e pó
gasto meus olhos
na luz
as ferramentas
são meus dedos
estou construindo minha casa
minha casa
meus pés minhas mãos meus olhos
minha asa