Eu conheci uma mulher borboleta. Foi no samba. Um pouco depois que entrei no bar. O som estava alto pra ecoar por toda a rua, o calor era típico do mês de janeiro. Os ladrilhos do salão suavam.
Entre um ombro e outro, avistei aquela borboleta mulher parada no canto. Duas músicas depois, ela veio voando, veio voando, e bem na hora do refrão daquele samba animado, a borboleta pousou ao meu lado.
Falei baixinho e procurei não fazer movimentos bruscos. Não queria que ela se assustasse. Mas a mulher estava curiosa e foi se aprochegando de mansinho. Contei e cantei. Que eu nunca tinha visto uma mulher borboleta assim, tão perto.
Quando eu ria, me preocupava em não mexer demais os braços. Afinal, qualquer brisa é ventania praúma mulher borboleta. Ela era delicada e conservava a brutalidade dos insetos fêmea.
Num certo momento, quando o silêncio se fez, ameaçou ir embora e avoar para longe, mas foi alarme falso. A mulher borboleta se aproximou ainda mais, fez um vôo curto e veio pousar no meu ombro, na mira dos meus ouvidos. Ela queria falar mais baixo e ouvir melhor.
Vamos lá pra fora tomar uma cerveja?
E ficamos de asas abertas para o vento que estava leve e constante.